15. Que a graça da devoção se alcança pela humildade e abnegação de si mesmo
- VOZ DO AMADO: Com perseverança deves buscar a graça da devoção,
pedi-la com instância, esperá-la com paciência e confiança, recebê-la
com agradecimento, guardá-la com humildade, com diligência aproveitá-la,
cometendo a Deus o tempo e o modo da celestial visita, até que se
digne visitar-te. Deves principalmente humilhar-te quando pouca ou
nenhuma devoção sentes em teu interior, sem, todavia, ficar abatido
ou entristecer-te demasiadamente. Muitas vezes dá Deus num momento
o que negou por largo tempo, e às vezes concede no fim da oração o
que no princípio diferiu.
- Se a graça fora sempre prontamente outorgada e oferecida à vontade,
tanto não podia suportar o homem fraco. Por isso a deves esperar com
firme confiança e humilde paciência. Mas atribui a culpa a ti e aos
teus pecados, quando te for negada ou ocultamente retirada. Às vezes
é bem pouco o que impede ou oculta a graça, se é que se pode chamar
pouco e não muito, o que priva de tão grande bem. E se removeres este
pequeno ou grande impedimento, e se te venceres perfeitamente, terás
o que pediste.
- Porque logo que de todo o teu coração te entregares a Deus e não buscares
coisa alguma a teu gosto e desejo, mas inteiramente te puseres em
suas mãos, achar-te-ás unido a ele e sossegado, e nada te será tão
delicioso e agradável como o beneplácito da divina vontade. Todo aquele,
pois, que com coração singelo dirige a sua intenção a Deus e se desprende
de todo amor ou aversão desordenada a qualquer coisa criada, está
bem disposto para receber a graça e digno de alcançar a devoção, porque
o Senhor dá a sua bênção onde encontra o coração vazio. E quanto mais
perfeitamente alguém renuncia às coisas terrenas e morre a si pelo
desprezo de si mesmo, tanto mais depressa lhe advém a graça, mais
copiosamente se lhe infunde e mais alto lhe ergue o coração livre.
- Então verá, terá alegria abundante e estará maravilhoso; o coração
se lhe dilatará, porque a mão do Senhor está com ele (Is 60,5), e
em suas mãos ele inteiramente se entregou para sempre. Eis como será
abençoado o homem que busca a Deus de todo o seu coração, e não deixa
sua alma se apegar às vaidades (Sl 23,5). Esse é que na recepção da
sagrada Eucaristia merece a graça inefável da união com Deus, porque
não olha para a sua devoção e consolação, mas, sobretudo busca a honra
e glória de Deus.
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