16. Do sofrer os defeitos dos outros
- Aquilo que o homem não pode emendar em si mesmo ou nos demais, deve-o
tolerar com paciência, até que Deus disponha de outro modo. Considera
que talvez seja melhor assim, para provar tua paciência, sem a qual
não têm grande valor nossos méritos. Todavia, convém, nesses embaraços,
pedir a Deus que te auxilie, para que os possas levar com seriedade.
- Se alguém, com uma ou duas advertências, não se emendar, não contendas
com ele; mas encomenda tudo a Deus para que seja feita a sua vontade,
e seja ele honrado em todos os seus servos, pois sabe tirar bem do
mal. Procura sofrer com paciência os defeitos e quaisquer imperfeições
dos outros, pois tens também muitas que os outros têm de aturar. Se
não te podes modificar como desejas, como pretendes ajeitar os outros
à medida de teus desejos? Muito desejamos que os outros sejam perfeitos,
e nem por isso emendamos as nossas faltas.
- Queremos que os outros sejam corrigidos com rigor, e nós não queremos
ser repreendidos. Estranhamos a larga liberdade dos outros, e não
queremos sofrer recusa alguma. Queremos que os outros sejam apertados
por estatutos e não toleramos nenhum constrangimento que nos coíba.
Donde claramente se vê quão raras vezes tratamos o próximo como a
nós mesmos. Se todos fossem perfeitos, que teríamos então de sofrer
nós mesmos por amor de Deus?
- Ora, Deus assim o dispôs para que aprendamos a carregar uns o fardo
dos outros; porque ninguém há sem defeito; ninguém sem carga; ninguém
com força e juízo bastante para si; mas cumpre que uns aos outros
nos suportemos, consolemos, auxiliemos, instruamos e aconselhemos.
Quanta virtude cada um possui, melhor se manifesta na ocasião da adversidade;
pois as ocasiões não fazem o homem fraco, mas revelam o que ele é.
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