3. Da utilidade da comunhão freqüente
- VOZ DO DISCÍPULO: Eis que venho a vós, Senhor, para aproveitar-me
de vossa munificência, e deliciar-me neste sagrado banquete, que vós,
Deus meu, preparastes, na vossa ternura, para o pobre. Em vós se acha
tudo o que posso e devo desejar; vós sois minha esperança, fortaleza
honra e glória. Alegrai, pois, hoje, a alma de vosso servo, porque
a vós, Senhor Jesus, levantei a minha alma. Desejo receber-vos agora
com devoção e reverência; desejo hospedar-vos em casa, para que, com
Zaqueu, mereça ser abençoado e contado entre os filhos de Abraão.
Minha alma suspira por vosso corpo; meu coração deseja ser convosco
unido.
- Dai-vos a mim e estou satisfeito; porque sem vós nada me pode consolar.
Sem vós não posso estar, e sem vossa visita não posso viver. Por isso
muitas vezes devo achegar-me a vós e receber-vos para remédio de minha
salvação, a fim de não desfalecer no caminho quando estiver privado
deste alimento celestial. Assim vós mesmo o dissestes uma vez, misericordiosíssimo
Jesus, quando pregáveis e curáveis diversas enfermidades: "Não
os quero despedir em jejum, para que não desfaleçam no caminho"(Mt
15, 32). Fazei também do mesmo modo comigo, pois ficastes neste Sacramento
para consolação dos fiéis. Vós sois a suave refeição da alma, e quem
dignamente vos receber se tornará participante e herdeiro da glória
eterna. A mim, que tantas vezes caio e peco, tão depressa afrouxo
e desfaleço, mui necessário me é que, com a oração, confissão e comunhão
freqüente, me renove, purifique e afervore, para não abandonar meus
santos propósitos, abstendo-me da comunhão por mais tempo.
- Pois "os sentidos do homem estão inclinados para o mal desde
a sua adolescência (Gên 8,21), e se não o socorre o remédio celestial,
logo cai o homem de mal em pior. Porque, se agora, comungando ou celebrando,
sou tão negligente e tíbio, que seria se não tomasse este remédio
e não buscasse tão poderoso conforto? E ainda que não esteja, todos
os dias, preparado, nem bem disposto para celebrar, contudo me quero
esforçar para, nos tempos convenientes, receber os sagrados mistérios
e tornar-me participante de tanta graça. Porque, enquanto a alma fiel,
longe de vós, peregrina neste corpo mortal, a única e principal consolação
para ela é - que muitas vezes se lembre do seu Deus e receba devotamente
o seu Amado.
- Ó maravilhosa condescendência de vossa bondade para convosco, que
vós, Senhor Deus, Criador e vivificador de todos os espíritos, vos
dignais de vir à minha pobre alma e saciar-lhe a fome com toda a vossa
divindade e humanidade! Ó ditoso coração, ó alma bem-aventurada, que
merece receber-vos com devoção a vós, seu Deus e Senhor, e nesta união
encher-se de gozo espiritual! Oh! que grande Senhor recebe, que amável
hóspede agasalha, que agradável companheiro acolhe, que fiel amigo
aceita, que formoso e nobre esposo abraça, mais digno de ser amado
que tudo o que se ama e deseja! Dulcíssimo Amado meu, emudeçam diante
de vós o céu e a terra com todos os seus ornatos; porque tudo o que
têm de brilho e beleza é dom de vossa liberalidade e não chega a igualar
a glória de vosso nome, "cuja sabedoria não tem medida"
(Sl 146,5).
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