6. Da alegria da boa consciência
- A glória do homem virtuoso é o testemunho da boa consciência. Conserva
pura a consciência, e sempre terás alegria. A boa consciência pode
suportar muita coisa e permanece alegre, até nas adversidades. A má
consciência anda sempre medrosa e inquieta. Suave sossego gozarás,
se de nada te acusar o coração. Não te dês por satisfeito, senão quando
tiveres feito algum bem. Os maus nunca têm verdadeira alegria nem
sentem a paz interior; pois não há paz para os ímpios, diz o Senhor
(Is 57, 21). E se disserem: Vivemos em paz, não há mal que nos possa
acontecer, e quem ousará ofender-nos? - não lhes dês crédito, porque
de repente levantar-se-á a ira de Deus, e então as suas obras serão
aniquiladas e frustados seus intuitos.
- A quem ama não é dificultoso gloriar-se na tribulação; pois gloriar-se
assim é gloriar-se na cruz do Senhor (Gál 6,14). Pouco dura a glória
que os homens dão e recebem. A glória do mundo anda sempre acompanhada
de tristeza. A glória dos bons está na própria consciência, e não
na boca dos homens. A alegria dos justos é de Deus e em Deus, a sua
alegria procede da verdade. Quem deseja a glória verdadeira e eterna
não faz caso da temporal. E quem procura a glória temporal ou não
a despreza de todo, mostra que pouco ama a celestial. Grande tranqüilidade
do coração goza aquele que não faz caso de elogios nem de censuras.
- É fácil estar contente e sossegado, tendo a consciência pura. Não
és mais santo porque te louvam, nem mais ruim porque te censuram.
És o que és, nem te podem os louvores fazer maior do que és aos olhos
de Deus. Se considerares o que és no teu interior, não farás caso
do que te dizem os homens. O homem vê o rosto, Deus o coração (1 Rs
16,7). O homem nota os atos, mas Deus pesa as intenções. Proceder
sempre bem e ter-se em pequena conta é indício de uma alma humilde.
Rejeitar toda consolação das criaturas é sinal de grande pureza e
confiança interior.
- Aquele que não procura o testemunho favorável dos homens mostra que
está todo entregue a Deus. Porque, como diz S. Paulo, não é aprovado
aquele que a si próprio recomenda, mas aquele que é recomendado por
Deus (2Cor 10,18). Andar recolhido no interior com Deus, sem estar
preso a alguma afeição humana, é próprio do homem espiritual.
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